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Fundamentalismo Circular
Publicado em: 10 de novembro de 2009, 01:28:55 - Lido 2962 vez(es)
Eu era espirita. Você, ainda na igreja, me condenava por heresia.
Você foi para o espiritismo. Eu estava espiritualista. Você condenava minha umbanda. E Ramatis também era heresia.
Mas um dia, você leu - e gostou - de Ramatis. Mas então eu já estava universalista. E você achava tanta abertura uma "mistificação".
Mas o tempo passou, e você aderiu ao meu universalismo. Mas aí, eu já estudava Jung. Você ficou ofendido com meu estudo, lembra? Tudo era mediunidade em sua visão, e você temia que parte de sua tamanha certeza fosse "coisa de sua cabeça". Dessa vez, seus ataques a mim eram explícitos. Eu, o herege voador, havia rompido os limites da cerquinha que você - ou seu pastor - chamava de "religião".
E eu não recuei diante da fogueira. Ao contrário. E você com isso um dia percebeu que havia SIM muito de psiquismo coletivo na espiritualidade individual. Entendeu um pouco de Jung, ainda que disfarçando os arquétipos e instâncias psíquicas de "subpersonalidades apometricas" (wtf!?!?). Até estudou tarot, astrologia, rituais e simbologias (você antes as condenava, lembra?) com uma base junguiana! Você fez cursos de terapia de vidas passadas ou reencarnacionista. Após queimar seus amigos que estudavam e ensinavam, você começou a admitir que Jung era "espiritualista". Converteu o sujeito 40 anos depois de sua morte, e agora ele seria aceito em seus centros e listas também.
Mas aí eu, herege, não estava mais em São Jung. Eu estudava psicánalise (oh), a ciência de Freud, aquele sujeitinho triplamente condenavel: era judeu, tarado e ateu. Você me condenou, lembra? Alem de estudar, eu ainda falava disso em listas (obsediando os fiéis) - e até planejava viver da atividade clinica! Eu também cometia mais pecados mortais, em sua opinião: cobrar para ajudar (e viver dignamente disso), botar a mão na massa densa olhos nos olhos (em vez de trabalhar apenas de maneira coletiva e espiritual, como recomendado), demonstrar clinicamente origens dessa vida mesmo e não mais de "karma e vidas passadas" (embora isso não exclua a presença do divino em nós, nem da causa e consequência neste plano).
Ah, aí não. Jung tudo bem, mas psicanálise também já era psicologia DEMAIS. Você não fazia mais apenas flames ou criticas indiretas. Nessa altura, eu já merecia ser excluído das amizades, das festas, das atividades "espirituais". Convite para cursos, não mais. Vai que o tal de Lázaro, o herege, sequer acreditasse naquilo que já professeu? Vai saber?
Entretanto hoje, no exílio, vejo que você faz terapia. Dá ou faz cursos de psicoterapias transpessoais , algumas vezes nos mesmos lugares e listas em que eu, há pouco tempo, não seria digno de pisar, por falar - de maneira mais embasada e pioneira - um pouco do campo onde agora você, as vezes, engatinha. E percebo também que você, tentando percorrer os caminhos onde me atirava pedras, comete erros e simplismos que, há tempos, não cometo mais.
De meu exílio auto-imposto, eu te compreendo. E perdôo. Afinal, independente de seu olhar e julgamento, fui e sou apenas eu. E como ando em linha reta e coerente, tenho certeza (e experiência) de que em breve você compreenderá o que quero dizer. Concorde comigo ou não.
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E agora, mesmo depois de tudo isso, vocês me chamam de herege ou obsessor por eu estudar filosofia? E me condena por eu tentar lhes dizer que não há incoerência na comunhão da razão com a espiritualidade e psicologia que você aprendeu (muitas vezes comigo) a gostar?
Pode espiritismo, depois espiritualismo, universalismo, Jung, depois transpessoal e psicanalise; mas filosofia e uso da razão na crença, não?
E aí, observando todo esse histórico e repetições, cabe uma só pergunta,
quando os mesmos que aprenderam com nossas mudanças de paradigmas atacam os filósofos espiritualistas: "Vem cá, VOCÊS NÃO CRESCEM, NÃO?"
Nos deram espelhos, e vimos um mundo doente: Eu sou apenas você... amanhã. ;-)
Láz
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