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>> Colunistas > Neo-Narcisismo Pós-Hedonista - Silicone e Negação Publicado em: 05 de setembro de 2006, 17:18:27 - Lido 5195 vez(es) > Sobre artigo "Narcisistas: os mestres da negação", Jeffrey Kluger, Revista Time > (...)O psicólogo Lawrence Josephs sabe dizer de imediato quais os pacientes que, mais provavelmente, o despedirão.(...) " Meu antigo professor de Transpsicanálise, o austríaco André Keppe, costumava dizer que esse momento, digamos, "cultural" da história ocidental pode vir a ser classificado, no futuro, como "período neo-narcisista". Eu acrescentaria um "pós-hedonista". Explico: Vivemos um grande "neo-narcisismo pós-hedonista". O antigo culto ao corpo implicava, pelo menos, melhorar o que se tem. Agora, o próprio corpo tornou-se um produto a ser adquirido - cabelos, seios, cinturas - para ingressarmos no mercado do "amor". Nele, bons investidores conseguem adoração, independência financeira ou substituto de auto-estima até a próxima estação de neo-prostituição. Se o amor é mercado, preciso ser bem de consumo, moeda de troca, e a embalagem é fundamental. Fico imaginando como serão os cemitérios do futuro. Precisarão ter caixinhas de restos mortais maiores, para acomodar as bolsinhas de silicone da bunda e peitos da titia que "desencascou". Ainda bem que silicone é inflamável: Com um pouco de fogos de artifício, poderemos vir a ter rituais pirotécnicos nas futuras cremações. Mas isso se houver família para administrar restos mortais. No pós-hedonismo da geração que ligou o dito "botão de foda-se", os filhos (mal) criados sem limites tornam-se pequenos ditadores domésticos. Educamos, se é que se pode usar esta palavra, um exército de psicopatas, crescendo em um país em crise, voltados para o próprio seio. Ou para o próprio umbigo, já que "seus" seios - de silicone - são artificiais. Pensando bem, esta geração do "cada um com seus problemas" não terá senso comunitário suficiente para cuidar de "restos", ainda que mortais... Como ativista do Greenpeace, sou obrigado a alertar: do jeito que vai o meio ambiente, a campanha da fraternidade de 2050 pode ser: "recicle os restos de silicone de sua avó". E tome malhação. E tatuagens excessivas, afinal tudo que não queremos é mostrar a própria "pele". Nada mais simbólico do enchê-la também de furos: A motivação inconsciente do modismo dos piercings me faz lembrar dos pacientes de relatos clássicos da psicanálise, que retalhavam a pele como forma de deixar "alguém preso" sair - aliviando assim sua angústia pessoal. Estariamos fazendo o mesmo, coletivamente, com nossa angústia existencial? Hoje, é preciso construir outra persona, ilusória. Tatuagens e plásticas são bem vindas, em cima de músculos forçadamente adquiridos em sessões excessivas de academia, não raro diárias. Combinações perfeitas para os silicones e anabolizantes dos que consomem, narcisisticamente, sua inclusão no novo mundo do prazer. Há também os aditivos do prazer: Em um mundo hedonista que não perdoa falhas, as drogas de maior faturamento no planeta são os anti-depressivos... e auxiliares da ereção!!! Seguidas pelo Ectasy, no mundo ilegal. Não há como ser coincidência. Enquanto isso, nas "comunidades" de redes de relacionamento virtual, uma série de sintomas patológicos, intolerâncias e extremismos são assumidos como se fossem características da personalidade. Para quê meio-termo em um mundo de exageros? O importante é "ter atitude", muitas vezes um eufemismo para comportamentos maníacos - alguns deles, bipolares, graças ao Prozac "receitado" por ginecologistas ou clínicos gerais após extenso "exame psicológico" de 15 minutos. Se alguém estiver triste ou reflexivo, "conserta-se". Não se questiona a sociedade, adapta-se a ela. Terapias instantâneas alienantes proliferam-se, em lugar da análise. Não há tempo a perder, mudando o comportamento já está bom. Se algo der errado adiante, o paciente siliconado que "consuma" a terapia outra vez. Jung, que faleceu em 1961, previa estarmos criando uma sociedade patológica, onde o excesso do consciente / material / aparente sobre o inconsciente (integrado) / espiritual / subjetivo reproduziria a própria estrutura da neurose, a ponto de perdemos a coincidência dos limites entre saudável e normal. E hoje, alternando entre neuroses e psicoses, evoluimos para uma sociedade... "borderline". Neste cenário, para quê se comprometer, atravessar dificuldades ou perdoar? Vamos "ficar", que a fila anda. Se não for divertido, não fazemos mais. "Amor" descartável, comprado pela aparência, voltado ao prazer. A questão é que o narcisismo individual favorece o comportamento egocêntrico, descontinuidade afetiva e instabilidade emocional. Tornando-se um modelo coletivo de "normalidade", bem como um diferencial de inclusão afetivo social, construiu uma sociedade de "cada um por si", relacionamentos descartáveis, aqui-agora, perdas constantes, onde não há "culpa" (leia-se: responsabilidade) sobre o que se prometia - ou exigia. A mídia molda o indivíduo, refletido coletiva e patologicamente na "sociedade", e esta não precisa mais da parte para se perpetuar. Não é apenas um silicone ou academia: estes são realimentação de algo maior anterior. Neo-narcisismo pós-hedonista. Viva o corpo e o prazer, pra ver se isso aplaca, no que "estou", a angústia do que não consigo "ser". Imagem é tudo. A fila anda. Tudo pelo prazer. Vamos à academia trabalhar anabolizantes e silicones, perseguindo um "modelo" distante da saudável exequibilidade, salvo consumo adicional. Precisamos estar bem para mostrarmos nossa nova pele tatuada e furada, ferida na alma, para o amor descartável que temos que conquistar hoje... antes de deixarmos amanhã, na primeira dificuldade ou novo prazer, assim que a "fila andar". Lázaro ( indo para a academia, consultando as promoções no guia de estilo, e pensando se vale mais a pena comprar um sorriso "perfeito", um implante de cabelos... ou um kit de "alongamento e potência" em outro lugar :-) -- |
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